Há algum tempo troquei a folia pelo sossego.
Este ano elegi Shakespeare como companheiro de retiro.
São tantos os bons livros que a gente quer, precisa reler,que não raras vezes nós mesmos nos perdemos,mesmo porque são tantos ainda não lidos que os mais antigos ficam esquecidos.
Essa tragédia, passada na Roma Antiga do século I e,envolvendo um dos mais poderosos romanos,na sua época,nos revela uma verdade inconteste; o tempo passou,mas,os seres humanos não mudaram.Até ficaram pior,pois,os valores daquela época eram mais sólidos e os conceitos de honra melhor delineados.
A estória,que faz parte da História ,trata das lutas pelo poder em Roma.
O povo romano queria fazer de César um rei. Ele recusou três vezes a coroa,mas,com uma certa relutância.A República já havia sido instalada e a elite não desejava mais reinos nem imperadores,mesmo que esse se chamasse Júlio César, o vencedor da Gália..
Enquanto César era aclamado pela plebe Cássio e Casca,dois influentes patrícios,conspiram.Decidem pela eliminação física de César,mas,temem a plebe e precisam contar com o apoio de Brutus,que amava César,mas,também amava Roma e não queria voltar aos velhos tempos.
Convencido pelos companheiros decide participar da conspiração.
César é assassinado ao chegar ao Senado,depois de relutar muito aparecer lá,naquele dia.
Os romanos eram muito supersticiosos e os prognósticos não eram nada favoráveis; até um adivinho tinha lhe alertado:-César,cuidado com os idos de Março...
Ao ver o corpo do grande general varado pelos punhais dos conspiradores,o jovem Marco Antonio pede para fazer a oração fúnebre,Afinal,ele era o protegido de César e o amava como um pai.
Seu pedido foi concedido,mas,ele só falaria depois que Brutus explicasse ao povo romano, a necessidade da eliminação de César.
A multidão reunida entendeu,saudou os conspiradores e,com relutância,concordou em ouvir Antonio,que,com sua magnífica oratória virou o povo a seu favor.
Os assassinos tiveram que fugir e Marco Antonio,unindo-se a Otávio e Lépido foram donos da vitória ajudados pelo espírito de César que veio cobrar a conta a Brutus.
César seria muito bem vingado!
E é no decorrer desta história que aprendemos com o grande bardo.
Assistimos ao drama de consciência dos conspiradores sendo Brutus,o único a entrar nisso por amor a Roma e por idealismo;os outros apenas visavam o poder e seus interesses pessoais.
A fala de Brutus com a sua consciência é lapidar:
-“Então ,o grande Júlio não sangrou em nome da justiça?Quem foi o vilão que tocou-lhe o corpo e apunhalou-o se não por justiça?Por que, se não para sustentar ladrões,iria um de nós contaminar os dedos com propinas infames e vender nossos altos cargos de largas honras por tanto vil metal quanto pudessem as suas munhecas agarrar?Eu preferiria ser um cachorro a latir para a lua que ser esse romano.”
E,assistimos ao espetáculo das multidões seguidamente enganadas pelos poderosos e mudando de opinião a cada minuto,sendo conduzida pelas elites apenas através das palavras ou das promessas financeiras.
Uma grande manada ,dotada de uma força colossal,mas,acéfala, sujeita à língua de ouro dos poderosos e às suas promessas falsas.
Não é assim até hoje?
Aprendo muito com o velho Shakespeare. Por isso o visito tantas vezes.
Suas tragédias nos contam das tiranias, das lutas cegas pelo poder,da inconstância do povo,das vidas privadas,das responsabilidades públicas dos que nos governam,da paz e da guerra e ,principalmente do distanciamento entre política e moral.
Os jogos políticos de ontem são os mesmos de hoje.Os homens é
que estão muito diferentes nas suas ações,infelizmente,para pior.
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O pão agora é de hamburger e o circo está simbolizado nos estádios, ou shoppings, ou igrejas. Mas o espetáculo continua. Este Shakspeare é imbatível num drama histórico. Meu abraço. paz e bem.
ResponderExcluirCacá,certas falas do livro caberiam muito bem em Brasília. bjks
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