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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A PEDRA DO DESEJO


                      Tela de Coubert
Mal o dia amanheceu e o sol surgiu no horizonte transformando os campos e rios em ouro líquido,a aldeia despertou para mais um dia de labuta,na seara.
Pedro e sua  mulher,em silencio, bebiam leite fresco e comiam queijo e pão,sua refeição matutina.
_E os rapazes? Pedro perguntou.
A mulher  deu de ombros,constrangida.
_Ainda não acordaram.
Pedro suspirou e saiu pro eito.
Aqueles filhos, três rapazes,tinham lhe saído pior que a encomenda.Não estudavam,nem trabalhavam.Rapazes fortes,braços vigorosos,podiam estar ajudando na colheita ,e,no entanto,passavam o dia ser fazer nada.Uma vergonha para a família,de gente trabalhadora,que há três gerações cultivava  a terra.
Por certo ,os vizinhos murmuravam;não se passava nada naquele lugar que não se soubesse.A vida da roça arredonda a barriga e estreita o cérebro,já disse alguém.E a fofoca corre solta.
-Mas, hoje dou um jeito nisto !Resmungou o ancião.
À noite,após o jantar,reuniu os filhos no alpendre,enquanto uma lua redonda e branca passeava no céu.
-Meninos,o tempo passa e vou ficando mais velho e cansado.Vocês são homens e fortes.
Nunca freqüentaram  escola  –me digam! –como pretendem se manter ,velar por sua mãe,se for preciso,ou sustentar família,quando as tiver?
_Amanhã iremos trabalhar.Mas,não aqui.Decidimos ganhar o mundo,vencer na vida e voltaremos aqui,depois de três anos.
Ao alvorecer do dia após essa conversa ,os três levantaram  assim que a aurora,com seus dedinhos cor de rosa,abria as cortinas do mundo.
A mãe cozinhou um panelaço de arroz e charque,todos comeram juntos,e preparou as sobras em três vasilhas  iguais,que deu aos rapazes para que levassem,á guisa de farnel.
O filho mais velho,comeu um pouco do arroz e ganhou a estrada;quando o segundo despertou,meio estremunhado,apanhou uma côdea de pão e apressou-se a sair,mastigando o alimento.O terceiro acordou com o sol alto.
Espreguiçou-se,devagar,e exclamou:
-Os outros já foram; melhor,ir também.Recusou o arroz;apanhou duas maçãs e saiu comendo.
Adiante,enquanto andava preguiçoso,olhando o mundo,topou com um grupo que cantava alto e tocava tambores;era uma companhia de teatro mambembe que voltava de uma apresentação na aldeia vizinha e seguia rumo ao sul.
Um dos atores perguntou-lhe:
-Que estás esperando ai,parado,feito um dois de paus?
-Nada,só olhando.Acho que gostaria de ser artista.
-Quer ir com a gente?Ensinaremos você a ser palhaço.
Deu certo como artista. Tinha bela voz e dedilhava a guitarra,com sentimento.
Três anos se passaram.Ao lembrar do combinado,cheio de saudades de casa e curioso para rever os irmãos,apanhou a guitarra e tomou o rumo de casa.
Mas,encontrou pela frente um imenso mar revolto e não pode atravessar.
Louco de saudade, ao ver que não podia atravessar,resolveu suicidar-se.Não sem antes tocar uma bela música e cantar uma canção que falasse de saudades.
Chorando,entrou nas águas revoltas e foi levado pelas ondas.
Meio desacordado, ouviu uma voz humana,que lhe disse,após tomá-lo nos braços:
-O bom vento,nosso amigo,levou tua canção até o meu rei e ele quer que  cantes,no seu palácio.
O rapaz acompanhou o mensageiro;foi levado à presença do rei.
Sentado num trono de ouro,Drago,o rei assim falou:
-Tens uma voz maviosa!Quero que sejas nosso jogral.Mas,antes,come e bebe um bom vinho;deves estar cansado.
Bem tratado e alimentado,o jovem não se sentia feliz;lembrava constantemente de sua mãe e sua casa;queria voltar.
-Não és feliz aqui?Perguntou o rei,um ar de preocupação no rosto.
-Claro que sim ;mas,fico triste quando penso na minha mãe.
-O rei cofiou a barba e respondeu:
-Compreendo .Amanhã poderás voltar.Meus conselheiros vão querer te dar ouro e prata;não aceites.
Pede-lhes uma pedra  preciosa  igual a esta que trago ao   peito.Quando necessitares de alguma coisa,basta pedir à pedra.Terás o que quiseres.
Assim foi feito. No dia seguinte o rapaz partiu,a pedra ,numa corrente de ouro,presa ao seu peito.
Que alegria ao reencontrar os irmãos.A mãe tinha chorado tanto pelos filhos que perdera parte da visão.O pai tinha envelhecido muito,mas,ainda pode ter o prazer de os  rever. .
Houve um lauto jantar,regado a um bom vinho caseiro e,então,o pai perguntou-:
-Você,meu filho mais velho,que profissão aprendeu?
-Meu pai,sou ferreiro.
-E,você,meu filho do meio?
-Sou prateiro,pai.
-E,qual a tua profissão,meu filho caçula?
-Sou artista, pai.
O velho,ao saber que tinha um filho artista,morreu de vergonha e pesar.
O tempo foi passando,os rapazes casaram,tiveram filhos,e,um dia a esposa do mais velho disse à esposa do mais moço:
-Olha,só,nosso cunhado.Nada faz durante o dia e não ganha um tostão.
Depois que meu marido,morrendo de raiva,queimou sua guitarra,passa o dia cantarolando,debaixo das árvores e o barulho da sua música,acorda nossos filhos.
Melhor repartir a herança ou nosso cunhado vai comer e beber todo nosso quinhão.
O músico ouviu a conversa e ,no dia seguinte,apanhou umas varas compridas,palha , um grande caldeirão e dois pratos quebrados,chamou sua mulher,e,num terreno baldio,construiu sua casa.
Todos os dias ia até a montanha e ,assim,puderam viver algum tempo em paz.Até que chegou o inverno e,com ele,a chuva e os ventos.
O rapaz não pode voltar à montanha,onde caçava,apanhava lenha e trazia frutas para casa.
No fogo baixo,o caldeirão fervia água.Era só o que tinham para se aquecer.
De repente,fez-se a luz;o rapaz lembrou da “pedra do desejo” que o rei tinha lhe dado.
Correu a gritar pela esposa ,que estava deitada,transida de frio.
-Levanta,mulher!Que queres comer?Peixe,carne assada,beber vinho? Escolha!
Esse homem endoidou de vez,pensou a esposa;e,nem se mexeu.
_Anda,mulher!Fala o que queres.
-Deixa-te de doidices,poxa;não estou para brincadeiras tolas.Se ao menos tivéssemos um pouco de arroz! suspirou.
O homem não se deu por vencido.
Agarrou a pedra e pediu:
Pedra querida,desejamos uma tigela grande de arroz e uma   porção de carne e peixe.
Apareceu um duende  que acendeu o fogão e altas labaredas aqueceu a palhoça.No chão,sobre um tapete,foi colocada a refeição:caldo,peixe e carne.
Espero que goste, pobre diabo.Resmungou o duende,um sujeitinho mal humorado.
O homem despertou a mulher e ambos comeram até fartar.
Onde arranjaste dinheiro para comprar tudo isto!?  Ela perguntou.
Piscando o olho,o homem tirou a pedra do pescoço e riu:
_Não comprei.Tudo o que eu desejar,basta pedir à essa pedra que me foi dada por um grande rei.
A mulher arregalou os olhos de cobiça e disse:
-Se possuis tanto tesouro,porque não fazes uma casa decente prá gente morar?Queres que o vento forte derrube ,de vez,essa cabana de palha?
Então, o homem pediu uma bela casa e foi atendido.
Ao sair,o duende resmungou:
-Tira bastante proveito dela,pobre diabo.
O  homem não revidou,pois,estava ocupado a admirar seu belo jardim,seus móveis caros e sua mulher bem vestida e alimentada.Percebeu o quanto ela era bonita.
Um dia,seu irmão mais velho teve que ir à aldeia e encontrou,na estrada,seu irmão caçula,montado num belo cavalo branco,bem ajaezado,vestido como um príncipe;na garupa,uma bela mulher,ricamente vestida.
O mais velho contou ao mais moço e os dois e suas mulheres alvoroçadas foram até à casa do caçula,tirar pergunta.
Começaram os insultos.
_Ladrão!Vilão! Malvado!Seus irmãos se esgoelando prá viver e tu no bem – bom,à custa de roubos e mal – feitos.
_Oba,vê como falas.Não roubei nada.Apenas,faço uso de um presente que recebi de um grande rei.
Assim,construí essa bela casa,que os raios de sol iluminam e,cujas flores do jardim,enchem de perfume a minha vida.Basta pedir o que eu quero,que terei.
-Verdade!? Podias ser um bom irmão e nos emprestá-la,por uns dois dias.
O bondoso jovem não negaceou.
Dividiu a pedra ao meio e passou o pedaço ao mais velho.
Mal chegou em casa,o ganancioso ferreiro,apanhou a pedra e pediu:
-Pedra,pedra,quero muito ouro.
Na mesma hora,o duende chegou com uma cornucópia entupida de ouro.
-Pobre diabo,resmungou;espero que faças bom proveito.
O mais velho se irritou e respondeu:
-Por que me tratas assim,escravo!?Possuo terras,tenho bastante para comer e animais de corte.Se me chamares assim,da próxima vez,apanhas.
Mas,de repente uma rajada de vento varreu a casa e a destruiu,levando ainda e espalhando pelo campo,todo o dinheiro recebido.
A metade da pedra voou pela janela.
O mais moço almoçava com a esposa quando viu entrar a metade da pedra e,depois de traçar alguns círculos,juntar-se à outra metade que estava no seu bolso.
A cornucópia abarrotada  de moedas apareceu misteriosamente no chão atapetado.
Quanto á pedra,saiu voando e afundou no mar.
*Conto de Miriam Sales





ESCULTURAS FEITAS COM LIVROS






Fantástico trabalho de Brian Dettmer




Obrigada pela visita
Bjs da Miriam





domingo, 21 de agosto de 2011

"A MULHER",UM POEMA DE CÉZAR UBALDO

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A PULGA SALVADORA



“O anel do médico tem duas cobras porque ele cobra quando cura  e  cobra quando mata.”
                               Barão de Itararé
                              Dr. Eusébio já clinicava em Maracás há mais de quarenta anos. Chegou recém-formado, tímido, ar caipira, mas, no decorrer do tempo, com lhaneza e competência, ganhou muitos pacientes, entre esses, a conta "estrelada' do Cel. Quinzinho; ninguém na família  do coronel freqüentava outro médico.
Dr. Eusébio  trouxe ao mundo os cinco filhos do casal,tratava da rinite de D. Candinha e de uma infecção crônica no ouvido direito do Quinzinho, que já durava perto de vinte anos. O doutor casou-se, teve um filho, acostumou-se á cidade que o acolheu e nunca mais saiu.
 Seu filho cresceu, foi estudar na Capital, junto com o filho mais velho do coronel, e,quando quis estudar medicina - foi a glória!-O pai babava-se de gosto e já tinha até mandado vir de Campo Formoso uma bela esmeralda, para seu Jofre, o ourives, fazer o anel de formatura.
Voltando o rapaz todo lampeiro, já doutor de anel e diploma, clinicou com o pai uns seis meses, até que este lhe disse:
-Pedrinho, meu filho, eu e sua mãe sempre tivemos o desejo de ter uma rocinha, coisa pequena, para  acabar nossos dias em paz, no meio das galinhas e cabras, plantando nossos legumes, tomando banho de rio e pitando meu cigarrinho, na rede, ao pôr do sol. A clínica, bem procurada, fica contigo; vai garantir o teu pão e o de teus filhos, como garantiu o meu. Sei que és um bom médico, vais criar renome, mas, te peço   uma atenção toda especial ao Coronel; visite-o sempre, tome-lhe a pressão e acompanhe com cuidado aquela supuração que ele tem no ouvido, é crônica, não tem cura, mas, vai aplicando mézinhas e evitando a dor, que correrá tudo bem, se Deus quiser.
 Venho daqui há seis meses ver como estás;se precisares, manda o Juvêncio com um bilhete. Beijou o filho e se foi.
Seis meses depois,quando voltou, encontrou a clínica cheia, o filho atarefado, não puderam conversar até o almoço;conversa vai, conversa vem, o filho lhe disse, o peito estufado de orgulho:
-Pai, não  vás acreditar! Olha que curei o ouvido do Cel. Eusébio; o homem tá que ninguém agüenta, feliz como pinto no lixo, aonde vai conta a estória e é Deus no céu e eu na terra.
                    -Então  o curaste! O coronel 'tá feliz, mas,eu não estou e logo,logo tu também não ficarás.
                     -Como assim,papai!? Não te entendo. O coronel tinha uma infecção causada por uma pulga que lhe entrou no ouvido e apostemou, dei-lhe penicilina,ficou curado.
                     -Meu filho,essa pulga, pagou teus estudos nos Maristas,pagou tua faculdade,anel e diploma,pagou esta casa e meu sítio,bobo.
E, agora,como vai ser???


COM A PALAVRA,O LEITOR:

Bravos! Bravos! Bravos!
Araken Galvão,escritor



terça-feira, 9 de agosto de 2011

OS BLOGS E EU!





















Minha avó sempre dizia para eu não me meter em camisa de onze varas.Vara era uma medida anterior ao sistema métrico , inexistente hoje,que equivalia a 1,1 metro atual.
A vara está fora de moda,mas,o conselho não; aconselha o sujeito a não dar um passo maior que a perna ou,num falar mais moderno,não querer meter Salvador dentro de Aracajú.
Por não seguir esses sábios conselhos repassados por três gerações é que eu agora ando sem tempo prá nada, torcendo para acontecer um milagre que faça o eixo da terra se deslocar um pouquinho e o dia possa ter 48 horas em lugar das usuais 24.
É tudo culpa do computador,juro.
Comecei escrevendo num site,depois vieram outros,deletei alguns inexpressivos ,mas,ai apaixonei-me pelos blogs.
Gente sensata ,com todos os parafusos na cabeça presos nos seus devidos lugares ,criam um blog.Ali escrevem suas mal traçadas,postam seus pensamentos,escolhem as imagens e vão dormir na paz de Jeová,felizes com a missão cumprida.Eu,não.Minha missão ficou foi muito comprida e quase nunca cumprida como deveria.
Sei que baiano é exagerado,mas,eu extrapolei.Descobri-me um caso psiquiátrico para Lacan nenhum botar defeito.
Não, não bastou parir seis filhos que pariram os meus treze netos,um deles bem apressadinho me deu uma bisneta,eu tinha que parir oito blogs.
Deveria estar deitada num divã, mas,cadê tempo para isso!?
Quando os blogs eram poucos eu os mudava todos os dias.Depois,passei a fazer postagens semanais.
Agora,só dá para trocar as postagens de dez em dez dias.Assim mesmo,com muito esforço.
Como são feitos (ou deveriam ser feitos) os blogs?
Bom,acho que conteúdo é tudo.A gente não vai assinar um espaço público cheio de bobagens.Claro que a matéria tem que ser atrativa para prender o leitor e evitar as visitas relâmpago,o cara clica,entra e sai correndo.
Um boa dose de humor é fundamental; vamos deixar os assuntos muito áridos e tristes para os jornais.
Fofocas,intriguinhas de beco tão comuns na grande mídia deixo fora.Mesmo porque nunca sei quem tem razão em que.Nunca me esqueço que a História e a Imprensa são escritas por vencedores.E,puxa a brasa para a sardinha dos seus partidários, patrocinadores,cupinchas etc.
Quanto á verdade cada um tem a sua e ela prefere continuar nua no fundo do poço.
Muita imagem distrai a atenção, além de fazer o blog parecer festa de adolescente.Bonequinhos,gatinhos,selinhos e outros inhos ficam lindos nos blogs infantis; se você já passou dos trinta,cuidado.
A diversificação é tudo; não tenha medo de misturar arte,textos,citações,entrevistas,charges,pois,o blog é uma revista eletrônica e como tal tem que prender a atenção.
Textos muito longos afugentam o leitor; ninguém lê mais nem livros muito grandes nem vê filmes muito longos. Estamos em plena era do “fast-food” literário.
Quem hoje leria “Guerra e Paz ”ou assistiria “ ...e o vento levou!”
Carinho é outro fator fundamental; a gente tem que gostar do que faz.
Visitantes são sempre muito bem vindos e os comentários são o salário do escritor.
Adoro recebê-los,mas,não sou muito visitada nem comentada.
Ás vezes até me ressinto,penso,-tanto trabalho prá ninguém ler?-Mas, nem por isso penso mudar a minha linha; desejo qualidade,não quantidade.
Continuo escolhendo a pauta,pesquisando,antenada,porque é assim que sou.É meu estilo.
Escrever me diverte. Não sei fazer outra coisa.Ser lida é a glória.
“Gazetas e folhetos têm uma gota como aguardente,com que muita gente se embebedou”,dizia um anônimo no Portugal do século XV.
Que consiga embebedar uns poucos tá de bom tamanho ,já que o bar não é muito grande.I

VIDA LITERÁRIA: CAROS COLEGAS

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A VAIDADE!

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