Eram muito gostosos os carnavais da minha infância!
Embora morássemos numa cidade do interior,Dezembro chegando,tomávamos o trem para Salvador,onde moravam meus avós maternos,e,enquanto a Maria Fumaça vencia os trilhos com sua eterna cantilena “café com pão bolacha não”,eu antegozava os prazeres que me esperavam na Capital,principalmente.o Carnaval,para mim,a melhor de todas as festas,suplantando até o Natal.
Meu pai,festeiro como ninguém e um pé de valsa que faria inveja a Juscelino,tratava logo de alugar um carro,uma baratinha sem capota,para nos levar ao corso.Também tratava do aluguel das cadeiras na Rua Chile,ponto estratégico onde passava todos os foliões e os carros alegóricos,fazendo o Corso.Dodô e Osmar ainda não tinham inventado o Trio Elétrico,que mudou a face do carnaval da Bahia.
Minha mãe,que nunca foi festeira,mas,nos acompanhava,tratava das minhas fantasias;uma para cada dia,o Domingo,começo da festa,a Segunda Feira Gorda da Ribeira e a Terça,fim do tríduo momesco.Sem direito a prorrogação.
Um dia eu saía de cigana, aproveitando as longas e grossas tranças que exibia na época;estamos falando dos anos quarenta e eu tinha sete anos.(1949);na segunda feira,virava odalisca,cheia de véus de gaze transparentes,que meu avô achava uma indecência;na terça,me vestia de baiana,á lá Carmem Miranda;confetes e serpentinas,não faltavam,bem como as lança-perfumes Rhodo e Rodour; sem elas para borrifar nas pessoas,(e só para isto,ninguém falava em cheirinho da loló)o carnaval perdia a graça.
Centenas de foliões mascarados,os( “caretas” )ou fantasiados ,desfilavam sua alegria,entre a Avenida Sete até a Praça da Sé.Quase não havia carnaval nos bairros.A mudança do Garcia,cheia de alegria e irreverência,temida pelos políticos,dura até hoje;já o “jegue de cueca e a jega de calçola”,da Massaranduba,bairro popular,este acabou.Bem como o Clube Carnavalesco “Rosa do Adro”,que também se foi.
Havia blocos como “os Filhos de Gandhi”,que já despontavam e o violento “Apaches do Tororó”,cujos membros invariavelmente acabavam no xilindró,para gáudio da população,que se deslocava para as portas das Delegacias,na quarta-feira de cinzas,para ver a saída dos prisioneiros fantasiados e rir da cara de todos.
Porém, belos eram os clubes carnavalescos com a majestade dos seus carros alegóricos,cheios de mulheres bonitas e muita música,cor e alegria.Cada um,queria suplantar o outro em riqueza e pujança.Havia o “Fantoches da Euterpe”,o “Cruz Vermelha”, e o” Inocentes em Progresso” com um carro só de crianças.
A discriminação velada ainda persistia.Os negros só podiam festejar na Baixa dos Sapateiros,Liberdade,onde nasceu o Ilê Aiyê,e na periferia.
Isto durou até 1950,quando o engenheiro mecânico Osmar Macedo e o radiotécnico Dodô Nascimento decidiram fazer o seu carnaval tocando suas músicas em cima de um Fordeco 1929,criando assim o “pau elétrico”, avô dos trios elétricos de hoje.
Texto de Miriam de Sales Oliveira
Visite:www.mirokcaladoavesso.blogspot.com
Eu não gosto de carnaval, confesso... Mas te ler e ver tantas lembranças legais de tua vida e infância é muito bom!
ResponderExcluirOs gaúchos são muito duros, e tenho traumas da época que era forçada a acompanhar minhas irmãs nos bailes de carnaval. Iamos num clube de alemães e parece estar vendo os baita empurrões, pisões que levava, e ainda da vontade que sentia de dar coices e estar com botas de esporas,rsrs Pode???
Assim ,vês que detesto!
beijo,lindo Carná pra ti e eu fico no sossego aqui,srrs chica
Chica,deste Carnaval de agora,n/ gosto.Prefiro estar em casa,escrevendo.
ResponderExcluirbjs