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domingo, 3 de setembro de 2017

TER OU NÃO TER UM DIÁRIO?









TER OU NÃO TER UM DIÁRIO?
Essa sempre foi a minha dúvida desde garota, pois,não gosto de obrigações.Só escrevo quando tenho algo a dizer,quando me dá vontade,sem método ou compromisso,aliás compromissos não quero nenhum com ninguém ou com nada,o bom de passar dos setenta é que você só faz o que lhe dá na telha. Direitos adquiridos, darling!
Mas,eu acho que devemos,sim,manter um diário,onde anotamos nossas experiências,perdas e ganhos,os “deve  e haver” das nossas vidas.
Durante a permanência na terra  a gente cria tantos laços,inventa tantas desculpas para não fazer o que quer – a casa,o jardim,os filhos,o marido,os gatos ,o trabalho,todas as conspirações contra a liberdade que é o que realmente importa.No fim,a gente vira uma cópia do personagem de Tolstoi,Ivan Ilitch,aquele que perto da morte busca um sentido para a vida e percebe que ,durante  uma longa vida,bem poucos momentos tiveram algum significo para ele .Sua vida foi uma mentira,sempre fazendo o que os outros esperavam dele,um indivíduo politicamente correto,mas,insosso,infeliz e irrealizado.Uma história ,simples,comum,mas,nem por isso menos terrível.
O bom é viver sem lenço nem documento, livre de obrigações e chatices, de desejos que você nem sabe se são seus ou se lhe foram impostos, jogando no meio da estrada pesos inúteis, sem contas a pagar ou receber, sem datas de vencimento, sem a ditadura dos cartões de crédito, sem prestar contas a não ser  á sua consciência,livre de amigos que cobram atenção,que lhe pedem contas da amizade,e,lá vamos nós,empurrando o carro da  vida sem saber bem porque ou para que,nem aonde quer chegar,se é que quer chegar a algum lugar.
Abrindo um velho diário de 1985  escondido  em um cantinho escondido da biblioteca ,descobri uma mulher da qual eu nem me lembrava ter conhecido e essa mulher era eu.Os seus problemas e amores da época já não me diziam nada o que prova que as dores e amores vãos passam e não deixam rastros;os homens que marcaram minha vida lembro de todos,mas,as ditas”aves de arribação” ,ficaram sepultados na minha lembrança e ,talvez,tivessem sua serventia,na época,e,terminado o serviço temporário ,se foram.Assim como os trabalhos frustrados, os tapetes puxados,a inveja e o ciúme alheio,embora esses  fatos formassem o alicerce que solidificaram a mulher de hoje,um pouco mais sábia,mas,apesar de tudo,ainda uma aprendiz.
Certos textos,sim,valem a pena ler de novo  ,pois,nos levam a uma fiel  reflexão da fugacidade da vida  e da brevidade dos problemas que nos afligem.
*Miriam de Sales é editora e escritora










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