TER OU NÃO TER UM
DIÁRIO?
Essa sempre foi a minha
dúvida desde garota, pois,não gosto de obrigações.Só escrevo quando tenho algo
a dizer,quando me dá vontade,sem método ou compromisso,aliás compromissos não
quero nenhum com ninguém ou com nada,o bom de passar dos setenta é que você só
faz o que lhe dá na telha. Direitos adquiridos, darling!
Mas,eu acho que
devemos,sim,manter um diário,onde anotamos nossas experiências,perdas e
ganhos,os “deve e haver” das nossas
vidas.
Durante a permanência
na terra a gente cria tantos
laços,inventa tantas desculpas para não fazer o que quer – a casa,o jardim,os
filhos,o marido,os gatos ,o trabalho,todas as conspirações contra a liberdade
que é o que realmente importa.No fim,a gente vira uma cópia do personagem de
Tolstoi,Ivan Ilitch,aquele que perto da morte busca um sentido para a vida e
percebe que ,durante uma longa vida,bem
poucos momentos tiveram algum significo para ele .Sua vida foi uma
mentira,sempre fazendo o que os outros esperavam dele,um indivíduo politicamente
correto,mas,insosso,infeliz e irrealizado.Uma história ,simples,comum,mas,nem
por isso menos terrível.
O bom é viver sem lenço
nem documento, livre de obrigações e chatices, de desejos que você nem sabe se
são seus ou se lhe foram impostos, jogando no meio da estrada pesos inúteis, sem
contas a pagar ou receber, sem datas de vencimento, sem a ditadura dos cartões
de crédito, sem prestar contas a não ser á sua consciência,livre de amigos que cobram
atenção,que lhe pedem contas da amizade,e,lá vamos nós,empurrando o carro da vida sem saber bem porque ou para que,nem
aonde quer chegar,se é que quer chegar a algum lugar.
Abrindo um velho diário
de 1985 escondido em um cantinho escondido da biblioteca ,descobri
uma mulher da qual eu nem me lembrava ter conhecido e essa mulher era eu.Os
seus problemas e amores da época já não me diziam nada o que prova que as dores
e amores vãos passam e não deixam rastros;os homens que marcaram minha vida
lembro de todos,mas,as ditas”aves de arribação” ,ficaram sepultados na minha
lembrança e ,talvez,tivessem sua serventia,na época,e,terminado o serviço
temporário ,se foram.Assim como os trabalhos frustrados, os tapetes puxados,a
inveja e o ciúme alheio,embora esses
fatos formassem o alicerce que solidificaram a mulher de hoje,um pouco
mais sábia,mas,apesar de tudo,ainda uma aprendiz.
Certos textos,sim,valem
a pena ler de novo ,pois,nos levam a uma
fiel reflexão da fugacidade da vida e da brevidade dos problemas que nos afligem.
*Miriam de Sales é editora e escritora
Nenhum comentário:
Postar um comentário