O BLOG DE JANEIRO/14
Nós, escritores,
somos também leitores.Alguns de nós leitores compulsivos.E,crentes,porque
,acreditamos naquilo que lemos.
D. Quixote
começou a tomar moinhos de vento como gigantes, porque leu,num livro
de aventuras que,um dia,nesta terra houve gigantes.E,acreditou no
livro.Comecei a sonhar com sereias depois que abri a Odisseia e li que o herói,Ulisses,foi tentado pelo seu
canto.
Percebi ,participei
e odiei a guerra depois que li Erich Maria Remarke descrevê-la em “Nada de Novo
no Front”,um impacto muito forte no espírito e na mente de uma jovem de quinze
anos.
O escritor é um
crente. Apesar de já ter deixado a juventude – a idade das crenças – para
trás,e caído na dura realidade adulta,ele ainda crê e continua lutando contra
moinhos de vento.Tenta mudar o mundo em vez de associar-se a ele,quer derrubar
preconceitos,inculcar ideias novas em corações e mentes e acima de tudo ser fiel a si mesmo.Crer no seu
talento quando todos o ignoram.
Afinal, o que é
um escritor?Apenas alguém que escreve? O professor, o padre,o contador ,o
jornalista também escrevem ,mas,nem todos são escritores.
Escritor é quem
publica? Mas, existem os amadores,os que
escrevem, mas, não publicam por medo ou timidez.
Escritor é quem
tem sucesso? Falado na mídia, detentor de prêmios,convidado de festas
literárias e ou acadêmicas,citado,lido,autor de livros colocados nas principais
livrarias,apontado ,respeitosamente nos aeroportos ou restaurantes;não raro
,solicitados a dar autógrafos nos livros que escrevem ou deitar opiniões sobre
tudo e todos.
E, no entanto,o
verdadeiro escritor não é midiático;escrever é um ato solitário e,na
verdade,ele detesta ser “arroz de festa”.Se pudesse,estaria calmo,no seu
canto,assuntando o mundo,para só então,descrevê-lo.
“Nós, escritores,jamais
mudaremos o mundo” afirma Saramago,o festejado escritor luso,que complementa:”A
Arte e a Literatura não tem poder diante dos exércitos”,mas,o escritor
tem,sim,a responsabilidade da ética e da palavra e não pode ser venal.
Como cidadãos
temos o dever de protestar, de expor nossas ideias,temos que uivar,como diz o
nobre escritor supra – citado.
A literatura
revela segredos nossos, pensamentos escondidos, verdades reveladas não por
Deus,como dogma,nem pela mão de chumbo do poder,mas,apenas,pela nossa
imaginação,pela faculdade humana de meditar e tentar mudar conceitos pré
–estabelecidos.Não mudamos o mundo,mas,se mudarmos uma pessoa,podemos nos dar
por satisfeitos,pois,não escrevemos em vão.
Será que esta
forma de fazer literatura, essa sintonia entre o livro e o leitor está morrendo
nos tempos de agora?Cervantes e Nietzsche estarão sendo derrotados pela TV de
Ted Turner ou pelo PC de Bill Gates?O Google é meu pastor, nada me faltará,esta
é a nova crença?
Cresci na Era do
Rádio e do jornal, no interior da Bahia,onde meu pai,todas as manhãs,sentava-se
na espreguiçadeira para ler “A Tarde”; “saiu na Tarde é verdade”,rezava o
slogan.
Hoje, pela
TV,assistimos ao vivo e a cores em alta definição no HD ,a genocídios cometidos mundo a fora,golpes de estado,morticínio e
injustiças diversas.Não precisamos ouvir ou ler sobre isso para acreditar; basta
olhar.
Os jornais e
revistas que ás vezes trazem o artigo de
um escritor nos chegam com gosto de café requentado.
Muitos já o
postaram no Facebook, nos seus sites e blogs e nos jornais virtuais ,como eu
faço.
São lidos muito
mais rápidos através do mundo. O Feed jit se encarrega de me mostrar quem
são,de onde veem,através de que canais e o que leem.Um círculo precioso que
Dante jamais poderia ter colocado no paraíso,porque,hoje não se publica, se
posta.
O certo é que
,nós,que escrevemos,resistimos,insistimos e escrevendo ou postando, não devemos
deixar de transmitir ideias ou experiências. A palavra é nossa ponte para o
sempre.Nos esforçamos para criar leitores desde a infância ;que leiam ,não
importa se no livro impresso,tão caro á nossa geração ou o e-book ou
e-pub,lidos nos tablets e celulares.Pois o livro é a educação dos sentidos
através da linguagem;é a intimidade do nosso país,o conceito que fazemos de nós
mesmos e do nosso povo,o repositório da nossa cultura e tradição.
Hoje,mais do que
nunca,impresso ou virtual o livro dá voz ao ser humano e diz que se não
falarmos, quem mais falará?Seremos uma sociedade refém do silêncio.
Miriam de Sales
Escritora, editora,palestrante
e blogueira.
SE TE CONTO...
Penélope
Naquela rua mora um casal de velhos. A mulher espera o marido na varanda, tricoteia em sua cadeira de balanço. Quando ele chega ao portão, ela está de pé, agulhas cruzadas na cestinha. Ele atravessa o pequeno jardim e, no limiar da porta, beija-a de olho fechado.
Sempre juntos, a lidar no quintal, ele entre as couves, ela no canteiro de malvas. Pela janela da cozinha, os vizinhos podem ver que o marido enxuga a louça. No sábado, saem a passeio, ela, gorda, de olhos azuis e ele, magro, de preto. No verão, a mulher usa um vestido branco, fora de moda; ele ainda de preto. Mistério a sua vida; sabe-se vagamente, anos atrás, um desastre, os filhos mortos. Desertando casa, túmulo, bicho, os velhos mudam-se para Curitiba.
Só os dois, sem cachorro, gato, passarinhos. Por vezes, na ausência do marido, ela traz um osso ao cão vagabundo que cheira o portão. Engorda uma galinha, logo se enternece, incapaz de mata-la. O homem desmancha o galinheiro e, no lugar, ergue-se caco feroz. Arranca a única roseira no canto do jardim. Nem a uma rosa concede o seu resto de amor.
Além do sábado, não saem de casa, o velho fumando cachimbo, a velha trançando agulhas. Até o dia em que, abrindo a porta, de volta do passeio, acham a seus pés uma carta. Ninguém lhes escreve, parente ou amigo no mundo. O envelope azul, sem endereço. A mulher propõe queimá-lo, já sofridos demais. Pessoa alguma lhes pode fazer mal, ele responde.
Não queima a carta, esquecida na mesa. Sentam-se sob o abajur da sala, ela com o tricô, ele com o jornal. A dona baixa a cabeça, morde uma agulha, com a outra conta os pontos e, olhar perdido, reconta a linha. O homem, jornal dobrado no joelho, lê duas vezes cada frase. O cachimbo apaga, não o acende, ouvindo o seco bater das agulhas. Abre enfim a carta. Duas palavras, em letra recortada de jornal. Nada mais, data ou assinatura. Estende o papel à mulher que, depois de ler, olha-o. Ela se põe de pé, a carta na ponta dos dedos.
— Que vai fazer?
— Queimar.
Não, ele acode. Enfia o bilhete no envelope, guarda no bolso. Ergue a toalhinha caída no chão e prossegue a leitura do jornal.
A dona recolhe a cestinha, o fio e as agulhas.
— Não ligue, minha velha. Uma carta jogada em todas as portas.
O canto das sereias chega ao coração dos velhos? Esquece o papel no bolso, outra semana passa. No sábado, antes de abrir a porta, sabe da carta à espera. A mulher pisa-a, fingindo que não vê. Ele a apanha e mete no bolso.
Ombros curvados, contando a mesma linha, ela pergunta:
— Não vai ler?
Por cima do jornal admira a cabeça querida, sem cabelo branco, os olhos que, apesar dos anos, azuis como no primeiro dia.
— Já sei o que diz.
— Por que não queima?
É um jogo, e exibe a carta: nenhum endereço. Abre-a, duas palavras recortadas. Sopra o envelope, sacode-o sobre o tapete, mais nada. Coleciona-a com a outra e, ao dobrar o jornal, a amiga desmancha um ponto errado na toalhinha.
Acorda no meio da noite, salta da cama, vai olhar à janela. Afasta a cortina, ali na sombra um vulto de homem. Mão crispada, até o outro ir-se embora.
Sábado seguinte, durante o passeio, lhe ocorre: só ele recebe a carta? Pode ser engano, não tem direção. Ao menos citasse nome, data, um lugar. Range a porta, lá está: azul. No bolso com as outras, abre o jornal. Voltando as folhas, surpreende o rosto debruçado sobre as agulhas. Toalhinha difícil, trabalhada havia meses. Recorda a legenda de Penélope, que desfaz a noite, à luz do archote, as linhas acabadas no dia e assim ganha tempo de seus pretendentes. Cala-se no meio da história: ao marido ausente enganou Penélope? Para quem trançava a mortalha? Continuou a lida nas agulhas após o regresso de Ulisses?
— Queimar.
Não, ele acode. Enfia o bilhete no envelope, guarda no bolso. Ergue a toalhinha caída no chão e prossegue a leitura do jornal.
A dona recolhe a cestinha, o fio e as agulhas.
— Não ligue, minha velha. Uma carta jogada em todas as portas.
O canto das sereias chega ao coração dos velhos? Esquece o papel no bolso, outra semana passa. No sábado, antes de abrir a porta, sabe da carta à espera. A mulher pisa-a, fingindo que não vê. Ele a apanha e mete no bolso.
Ombros curvados, contando a mesma linha, ela pergunta:
— Não vai ler?
Por cima do jornal admira a cabeça querida, sem cabelo branco, os olhos que, apesar dos anos, azuis como no primeiro dia.
— Já sei o que diz.
— Por que não queima?
É um jogo, e exibe a carta: nenhum endereço. Abre-a, duas palavras recortadas. Sopra o envelope, sacode-o sobre o tapete, mais nada. Coleciona-a com a outra e, ao dobrar o jornal, a amiga desmancha um ponto errado na toalhinha.
Acorda no meio da noite, salta da cama, vai olhar à janela. Afasta a cortina, ali na sombra um vulto de homem. Mão crispada, até o outro ir-se embora.
Sábado seguinte, durante o passeio, lhe ocorre: só ele recebe a carta? Pode ser engano, não tem direção. Ao menos citasse nome, data, um lugar. Range a porta, lá está: azul. No bolso com as outras, abre o jornal. Voltando as folhas, surpreende o rosto debruçado sobre as agulhas. Toalhinha difícil, trabalhada havia meses. Recorda a legenda de Penélope, que desfaz a noite, à luz do archote, as linhas acabadas no dia e assim ganha tempo de seus pretendentes. Cala-se no meio da história: ao marido ausente enganou Penélope? Para quem trançava a mortalha? Continuou a lida nas agulhas após o regresso de Ulisses?
No banheiro fecha a porta, rompe o envelope. Duas palavras... Imagina um plano? Guarda a carta e dentro dela um fio de cabelo. Pendura o paletó no cabide, o papel visível no bolso. A mulher deixa na soleira a garrafa de leite, ele vai-se deitar. Pela manhã examina o envelope: parece intacto, no mesmo lugar. Esquadrinha-o em busca do cabelo branco — não achou.
Desde a rua vigia os passos da mulher dentro de casa. Ela vai encontra-lo no portão — no olho o reflexo da gravata do outro. Ah, erguer-lhe o cabelo da nuca, se não tem sinais de dente... Na ausência dela, abre o guarda-roupa enterra a cabeça nos vestidos. Atrás da cortina espiona os tipos que cruzam a calçada. Conhece o leiteiro e o padeiro, moços, de sorrisos falsos.
Reconstitui os gestos da amiga: pós nos móveis, a terra nos vasos de violetas úmida ou seca... Pela toalhinha marca o tempo. Sabe quantas linhas a mulher tricoteia e quando, errando o ponto, deve desmanchá-lo, antes mesmo de contar na ponta da agulha.
Sem prova contra ela, nunca revelou o fim de Penélope. Enquanto lê, observa o rosto na sombra do abajur. Ao ouvir passos, esgueirando-se na ponta dos pés, espreita à janela: a cortina machucada pela mão raivosa.
Afinal compra um revólver.
— Oh, meu Deus... Para quê? — espanta-se a companheira.
Ele refere o número de ladrões na cidade. Exige conta de antigos presentes. Não fará toalhinhas para o amante vender? No serão, o jornal aberto no joelho, vigia a mulher — o rosto, o vestido — atrás da marca do outro: ela erra o ponto, tem de desmanchar a linha.
Aguarda-o na varanda. Se não a conhecesse, ele passa diante da casa. Na volta, sente os cheiros no ar, corre o dedo sobre os móveis, apalpa a terra das violetas — sabe onde está a mulher.
De madrugada acorda, o travesseiro ainda quente da outra cabeça. Sob a porta, uma luz na sala. Faz o seu tricô, sempre a toalhinha. É Penélope a desfazer na noite o trabalho de mais um dia?
Erguendo os olhos, a mulher dá com o revólver. Batem as agulhas, sem fio. Jamais soube por que a poupou. Assim que se deitam, ele cai em sono profundo.
Havia um primo no passado... Jura em vão, a amiga: o primo aos onze anos morto de tifo. No serão ele retira as cartas do bolso — são muitas, uma de cada sábado — e lê, entre dentes, uma por uma.
Por que não em casa no sábado, atrás da cortina, dar de cara com o maldito? Não, sente falta do bilhete. A correspondência entre o primo e ele, o corno manso; um jogo, onde no fim o vencedor. Um dia tudo o outro revelará, forçoso não interrompê-la.
No portão dá o braço à companheira, não se falam durante o passeio, sem parar diante das vitrinas. De regresso, apanha o envelope e, antes de abri-lo, anda com ele pela casa. Em seguida esconde um cabelo na dobra, deixa-o na mesa.
Acha sempre o cabelo, nunca mais a mulher decifrou as duas palavras. Ou — ele se pergunta, com nova ruga na testa — descobriu a arte de ler sem desmanchar a teia?
Uma tarde abre a porta e aspira o ar. Desliza o dedo sobre os móveis: pó. Tateia a terra dos vasos: seca.
Direto ao quarto de janelas fechadas e acende a luz. A velha ali na cama, revólver na mão, vestido brando ensanguentado. Deixa-a de olho aberto.
Piedade não sente, foi justo. A polícia o manda em paz, longe de casa à hora do suicídio. Quando sai o enterro, comentam os vizinhos a sua dor profunda, não chora. Segurando a alça do caixão, ajuda a baixá-lo na sepultura; antes de o coveiro acabar de cobri-lo, vai-se embora.
Entra na sala, vê a toalhinha na mesa — a toalhinha de tricô. Penélope havia concluído a obra, era a própria mortalha que tecia — o marido em casa.
Acende o abajur de franja verde. Sobre a poltrona, as agulhas cruzadas na cestinha. É sábado, sim. Pessoa alguma lhe pode fazer mal. A mulher pagou pelo crime. Ou — de repente o alarido no peito — acaso inocente? A carta jogada sob outras portas... Por engano na sua.
Um meio de saber, envelhecerá tranqüilo. A ele destinadas, não virão, com a mulher morta, nunca mais. Aquela foi a última — o outro havia tremido ao encontrar porta e janela abertas. Teria visto o carro funerário no portão. Acompanhado, ninguém sabe, o enterro. Um dos que o acotovelaram ao ser descido o caixão — uma pocinha d’água no fundo da cova.
Sai de casa, como todo sábado. O braço dobrado, hábito de dá-lo à amiga em tantos anos. Diante da vitrina com vestidos, alguns brancos, o peso da mão dela. Sorri desdenhoso da sua vaidade, ainda morta...
Os dois degraus da varanda — “Fui justo”, repete, “fui justo” —, com mão firme gira a chave. Abre a porta, pisa na carta e, sentando-se na poltrona, lê o jornal em voz alta para não ouvir os gritos do silêncio.
DALTON TREVISAN, chamado "O Vampiro de Curitiba,"nasceu no Paraná em junho de 1925.
LIVRARIAS FAMOSAS
Uma das mais belas livrarias de Paris,que,aliás,também é sebo.Ah,o glamour das livrarias europeias!
Foto:We heart it
LIVROS QUE NOS TORNAM LIVRES
A sua obra mais famosa é "Utopia" (1516) (em grego, utopos = "em lugar nenhum") . Neste livro criou uma ilha-reino imaginária que alguns autores modernos viram como uma proposta idealizada de Estado e outros como sátira da Europa do século XVI. Um dos aspectos desta obra de More é que ela recorreu à alegoria (como no Diálogo do conforto, ostensivamente uma conversa entre tio e sobrinho) ou está altamente estilizada, ou ambos, o que lhe abre um largo campo interpretativo .
Estou relendo" UTOPIA" ,de Thomas Morus e penso:-se pudéssemos transformar o nosso num país assim?
HISTÓRIAS CURTAS
MAUPERTIUS,ILUSTRE GEÔMETRA FRANCÊS, FOI APRISIONADO NA ÁUSTRIA;LEVADO Á PRESENÇA DA BELA IMPERATRIZ ,ESTA LHE FEZ UMA PERGUNTA CAPCIOSA.
-CONHECES A RAINHA DA SUÉCIA,IRMÃ DO REI DA PRÚSSIA?
-SIM,MAJESTADE.
-DIZEM QUE É A MAIS BELA PRINCESA DA EUROPA.
-REAL SENHORA,EU TAMBÉM,PENSEI ASSIM ATÉ HOJE.
OBRIGADA PELA VISITA.VOLTE SEMPRE!
Olá, querida Míriam
ResponderExcluirPassando pra desejar um Feliz e Abençoado 2014!!!
Bjm fraterno
Oi Miriam, tudo bem?
ResponderExcluirFiquei super feliz em saber que você quer me enviar um livro.
Vou deixar meu email aqui para você. Assim que ver me escreve respondendo que te passo meu endereço por email, senão meus dados ficarão visiveis aqui.
ResponderExcluirMais uma vez obrigada.
Bjs e sucesso!!!
Email: hieli_gracindo@hotmail.com
ResponderExcluirBjs