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terça-feira, 7 de junho de 2011

CONVERSA DE ESCRITOR





CONVERSA DE ESCRITOR.
                           Ao querido amigo Leo Gargi.
Não, meu amiguinho, um escritor não é qualquer um que escreve. Se assim fosse, guarda-livros, que tem muito o quê pôr no papel; apontador de obras; garçom de restaurante, que anota pedidos... todos esses seriam escritores.
Professor também. Mas, grandes escritores foram também professores.
Na verdade, eu acho que o escritor nasce feito; muitas vezes tem que ser burilado, como o Michelangelo  tirando o Davi de um bloco de mármore. Quase sempre o escritor nem sabe que é escritor. Até vir o despertar.
E te digo: escrever é como fazer cocada.
Surpreso? Pensas que estou de gozação?
Não estou.
Para fazer uma boa cocada, primeiro é preciso ter vontade de comer cocada, aquela urgência em que sabes que tens que fazer. Correr para a cozinha, escolher o coco seco, descascá-lo, passar no ralo grosso e misturar um pouco de  água ao  açúcar. Untar de óleo uma panela e levar essa mistura a ferver  sem mexer nela, até ficar uma calda de fio médio. Depois de tudo isso, despejar o coco ralado na mistura, acrescentar o cravo e mexer até se desprender do fundo da panela. Algumas pessoas acrescentam leite condensado.
Está pronta a cocada.
Pois escrever, não sabes menino, é parecido.
Surge a ideia, que vem brotando e abrindo caminho desde o fundo do nosso ser consciente. Corremos para o computador e deixamos a ideia fluir: os dedos vão correndo sobre o teclado quase num transe, ela toma conta de nós, nos possuindo de tal maneira que nem temos tempo de preparar a mistura  e já vamos levando ao fogo dos nossos ímpetos, fazendo o texto florescer e aparecer. Soberano.
Terminado, vamos às correções: Provar o sal, sentir a textura, acrescentar ou não o leite condensado, mexer aqui, mudar ali, deixá-lo espalhado pela assadeira para endurecer melhor e colocar na compoteira para ficar mais chique.  Aí, temos o nosso ofício.
Isso se chama elaborar texto, fazê-lo ao gosto do freguês, ampliá-lo ou torná-lo mais conciso, porém, sem nunca modificar a ideia que o originou.
Ousar, criar novas situações, inovar, acrescentar novos ingredientes, amor, ódio, paixão, tudo isso é válido no laboratório da escrita.
Mas, não se deve tocar na essência...
Ser fiel a si mesmo e ao que se acredita.   Eis  o que separa o escrevinhador  do escritor.


COM A PALAVRA,O LEITOR:


Maravilhosa.
Um abraço forte.

J.Alconso,escritor baiano

4 comentários:

  1. Quanta delicadeza, Miriam!
    Comparação incrível e verdadeira,
    Bjs,

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  2. A alguns é dado o dom da culinária. A outros, o da escrita.
    Miriam, além desses dois foi agraciada com o dom de encantar.
    Ela consegue, com sua sensibilidade ímpar, agradar ao paladar e ao coração com uma só tacada, ou melhor, com uma só teclada. Ela fala à alma.
    Obrigado por tua amizade.
    Leo Gargi.
    http://elaboratextos.blogspot.com/

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  3. Mirian, eu passei a vida inteira escrevendo e jogando fora o que escrevia, pois não acreditava que um dia poderia publicar um livro ou qualquer coisa que fosse, até aos meus 22 anos eu comecei escrever Lágrimas de um Médico, esse não tive coragem de jogar, assim terminei e engavetei. Passaram-se mais de 20 anos, eu apresentei a um amigo que disse isso é muito bom para ficar engavetado. Essa conversa mexeu comigo e comecei a passar para o computador e em 2009 eu o publiquei. Desde então não parei mais de escrever.

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  4. Míriam: Benditos sejam seu dom de escritora e seus dotes culinários, que me levaram a viajar em suas palavras, saboreando uma deleciosa cocada! Parabéns! Sucesso! Beijos.

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