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terça-feira, 9 de julho de 2013

A CIVILIZAÇÃO DO ESPETÁCULO

                               


                       A CIVILIZAÇÃO DO ESPETÁCULO

Por Miriam Sales*
Juro,fiquei muito contente em saber que, Vargas Llosa,escritor peruano e ganhador do Nobel,conhecido por suas ideias liberais,no seu novo livro “A Civilização do Espetáculo,”um ensaio melancólico,esposa e faz chegar ao mundo,ideias muito parecidas com as minhas,sobre o fim da cultura como a conhecemos e vivemos.
Conhecido por sua aversão ao marxismo,o escritor,no entanto,cita obras de Debord,marxista e revolucionário,entre outros famosos autores e formadores de opinião como T,S.Eliot,um dos meus favoritos,para corroborar suas ideias a respeito do que ele considera a cultura do espetáculo “,a domesticação e mercantilização da cultura”,hoje uma indústria cultural,incompatível com os valores que a nortearam nos bons tempos dos escritores não mercantilistas que escreviam pelo prazer de exibir suas ideias e formar opiniões.
Nesta nossa cultura ,hoje,o mercado dita os valores,promove os escritores que lhe convém,as grandes editoras,mais do que nunca publicam de olho nas vendas e nem se importam de vender gato por lebre,pagar jornalistas para dizer que o ruim é bom e comprar listas dos mais vendidos em órgãos de imprensa venais,sempre dispostos a receber as migalhas que caem das mesas dos poderosos.
O resultado disto tudo é que a mediocridade se instala no nosso meio cultural e até escritores famosos e de bom conceito ,prestam-se a escrever livros bizarros, a mando dos  seus editores,livros onde,nitidamente,são encaixados temas que,até o mais lorpa dos leitores percebe que foram  inseridos ali apenas para cumprir o número de páginas.
Resumindo,segundo Llosa,”a cultura perdeu sua conexão vital  com a realidade,sua capacidade crítica e sua vocação transcendente” e eu acrescentaria,seu compromisso com o público,sua fidelidade á sua época,para transformar-se apenas em diversão tediosa,onde ,poucos livros satisfazem,realmente,o gosto e interesse das massas.
Confesso que,há muito não leio um livro que me encha as medidas;e,confesso ,também,o meu desalento por viver nesta era mercantilista,onde como o Ulisses  de Adorno,vou a concertos apenas para mostrar cultura e aplaudir a orquestra,mas,sem deixar que a melodia me envolva e  penetre nos meus sentidos.
O certo é que mesmo contra nossa vontade o mundo gira e a fila anda levada pelos novos meios audiovisuais  - TV,internet,cinema – que subjugam a palavra e escravizam o pensamento.
A frivolidade das redes sensuais é uma prova inconteste de que estou certa,corroborada,agora,por um mestre da literatura ,corajoso o suficiente para abordar tema tão delicado.
Os talentos mais puros existem,mas,estão escondidos nos seus recantos,sua arte literária escondida e envergonhada ,dentro das pequenas editoras,dos livros independentes ou postados em sites literários,onde a mídia nunca os vê e as grandes editoras não se interessam porque não valem dinheiro.
Enquanto isto, o jornalismo vive de escândalos e fofocas,a literatura vive de Best- Sellers duvidosos,comprados em leilões milionários,no exterior,as artes plásticas estão infestadas de picaretas,a política vive da corrupção e ausência de ideias e a pornografia reina soberana sobre a ternura e o erotismo sadio.
Mas, nem tudo está perdido e ainda se vê uma luz no fim desse túnel; os bons leitores ainda existem e  infensos a esses modismos ,ainda procuram separar o joio do trigo.
Os livros de Dan Brown e daquela mulher cujo nome não sei que escreveu “50 Tons de Cinza” ,vendem muito mais que o próprio Llosa ,no “Sonho do Celta” ou “Conversa na Catedral” ou mesmo “Cem Anos de Solidão”,mas,nem por isso essas obras deixam de ser as mais importantes da nossa história literária e onde quer que exista uma pessoa amiga das letras,elas  ,certamente,notarão a diferença entre o genialidade e o oportunismo.
Uma amostra   da nossa decadência cultural está nas Feiras e Festas literárias;o fracasso de Paraty,esse ano,mostra isso,embora ela seja o parque de diversões de paulistanos abastados e metidos a cultos;do Brasil,nenhum nome de sucesso,simplesmente porque não o temos,ou melhor,existem,mas,escondidos nos seus cantinhos como falei acima.Dos estrangeiros,poucos conhecidos do grande público ,que dá cor e alegria ás festas literárias.As próximas,sinceramente,não vejo um nome que me dê vontade de largar o conforto do meu lar e viajar para vê-los.Na Fliporto, apenas Pilar Del Rio,por ser esposa de Saramago e ter trocado alguns e-mails com ela,anos atrás.Bem,fala-se na presença do Ariano Suassuna,mas,ele virá á Bahia...Esperemos.
Nas outras,menos votadas,continua os mesmos convidados de sempre;as mesmas “estrelas” fabricadas pelos “donos” dessas festas que trocam figurinhas uns com os outros – leve-me para a sua  que lhe levo para a minha  –nesta ridícula dança de cadeiras que só mostra a imbecilidade nacional.
Frequentadora assídua dessas festas e feiras,assisti muitos voos de galinha,escritores que apareciam como promessas nacionais ,mas,que um ou dois anos depois,nunca mais se ouvia falar deles.Pois,o verdadeiro talento é que vale e desponta mesmo no anonimato e no abandono.
Não vejo com alegria nem aplaudo a ganância do mercado que está sufocando a cultura; nem a inconveniente presença da mídia nas festas literárias que patrocinam,mandam e excluem talentos.Mas,quero ser uma das vozes que levantam esse tema tão traumático para os verdadeiros amantes da “Deusa Cadela” como D. H. Lawrence, profeticamente, tratava a Literatura.




                      *Miriam Sales é escritora,editora e blogueira

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