A CIVILIZAÇÃO
DO ESPETÁCULO
Por Miriam Sales*
Juro,fiquei muito
contente em saber que, Vargas Llosa,escritor peruano e ganhador do Nobel,conhecido
por suas ideias liberais,no seu novo livro “A Civilização do Espetáculo,”um
ensaio melancólico,esposa e faz chegar ao mundo,ideias muito parecidas com as
minhas,sobre o fim da cultura como a conhecemos e vivemos.
Conhecido por sua
aversão ao marxismo,o escritor,no entanto,cita obras de Debord,marxista e
revolucionário,entre outros famosos autores e formadores de opinião como
T,S.Eliot,um dos meus favoritos,para corroborar suas ideias a respeito do que
ele considera a cultura do espetáculo “,a domesticação e mercantilização da
cultura”,hoje uma indústria cultural,incompatível com os valores que a
nortearam nos bons tempos dos escritores não mercantilistas que escreviam pelo
prazer de exibir suas ideias e formar opiniões.
Nesta nossa cultura
,hoje,o mercado dita os valores,promove os escritores que lhe convém,as grandes
editoras,mais do que nunca publicam de olho nas vendas e nem se importam de
vender gato por lebre,pagar jornalistas para dizer que o ruim é bom e comprar
listas dos mais vendidos em órgãos de imprensa venais,sempre dispostos a
receber as migalhas que caem das mesas dos poderosos.
O resultado disto tudo
é que a mediocridade se instala no nosso meio cultural e até escritores famosos
e de bom conceito ,prestam-se a escrever livros bizarros, a mando dos seus editores,livros onde,nitidamente,são
encaixados temas que,até o mais lorpa dos leitores percebe que foram inseridos ali apenas para cumprir o número de
páginas.
Resumindo,segundo
Llosa,”a cultura perdeu sua conexão vital com a realidade,sua capacidade crítica e sua
vocação transcendente” e eu acrescentaria,seu compromisso com o público,sua
fidelidade á sua época,para transformar-se apenas em diversão tediosa,onde
,poucos livros satisfazem,realmente,o gosto e interesse das massas.
Confesso que,há muito
não leio um livro que me encha as medidas;e,confesso ,também,o meu desalento
por viver nesta era mercantilista,onde como o Ulisses de Adorno,vou a concertos apenas para mostrar
cultura e aplaudir a orquestra,mas,sem deixar que a melodia me envolva e penetre nos meus sentidos.
O certo é que mesmo
contra nossa vontade o mundo gira e a fila anda levada pelos novos meios
audiovisuais - TV,internet,cinema – que subjugam
a palavra e escravizam o pensamento.
A frivolidade das redes
sensuais é uma prova inconteste de que estou certa,corroborada,agora,por um
mestre da literatura ,corajoso o suficiente para abordar tema tão delicado.
Os talentos mais puros
existem,mas,estão escondidos nos seus recantos,sua arte literária escondida e
envergonhada ,dentro das pequenas editoras,dos livros independentes ou postados
em sites literários,onde a mídia nunca os vê e as grandes editoras não se
interessam porque não valem dinheiro.
Enquanto isto, o
jornalismo vive de escândalos e fofocas,a literatura vive de Best- Sellers duvidosos,comprados
em leilões milionários,no exterior,as artes plásticas estão infestadas de
picaretas,a política vive da corrupção e ausência de ideias e a pornografia
reina soberana sobre a ternura e o erotismo sadio.
Mas, nem tudo está
perdido e ainda se vê uma luz no fim desse túnel; os bons leitores ainda
existem e infensos a esses modismos ,ainda
procuram separar o joio do trigo.
Os livros de Dan Brown
e daquela mulher cujo nome não sei que escreveu “50 Tons de Cinza” ,vendem
muito mais que o próprio Llosa ,no “Sonho do Celta” ou “Conversa na Catedral”
ou mesmo “Cem Anos de Solidão”,mas,nem por isso essas obras deixam de ser as
mais importantes da nossa história literária e onde quer que exista uma pessoa
amiga das letras,elas ,certamente,notarão
a diferença entre o genialidade e o oportunismo.
Uma amostra da
nossa decadência cultural está nas Feiras e Festas literárias;o fracasso de
Paraty,esse ano,mostra isso,embora ela seja o parque de diversões de
paulistanos abastados e metidos a cultos;do Brasil,nenhum nome de sucesso,simplesmente
porque não o temos,ou melhor,existem,mas,escondidos nos seus cantinhos como
falei acima.Dos estrangeiros,poucos conhecidos do grande público ,que dá cor e
alegria ás festas literárias.As próximas,sinceramente,não vejo um nome que me
dê vontade de largar o conforto do meu lar e viajar para vê-los.Na Fliporto, apenas
Pilar Del Rio,por ser esposa de Saramago e ter trocado alguns e-mails com
ela,anos atrás.Bem,fala-se na presença do Ariano Suassuna,mas,ele virá á
Bahia...Esperemos.
Nas outras,menos
votadas,continua os mesmos convidados de sempre;as mesmas “estrelas” fabricadas
pelos “donos” dessas festas que trocam figurinhas uns com os outros – leve-me para
a sua que lhe levo para a minha –nesta ridícula dança de cadeiras que só
mostra a imbecilidade nacional.
Frequentadora assídua
dessas festas e feiras,assisti muitos voos de galinha,escritores que apareciam
como promessas nacionais ,mas,que um ou dois anos depois,nunca mais se ouvia
falar deles.Pois,o verdadeiro talento é que vale e desponta mesmo no anonimato
e no abandono.
Não vejo com alegria
nem aplaudo a ganância do mercado que está sufocando a cultura; nem a
inconveniente presença da mídia nas festas literárias que patrocinam,mandam e
excluem talentos.Mas,quero ser uma das vozes que levantam esse tema tão
traumático para os verdadeiros amantes da “Deusa Cadela” como D. H. Lawrence, profeticamente,
tratava a Literatura.
*Miriam Sales é escritora,editora e blogueira
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