O BLOG DE JULHO/13
A ESCRITA E AS
LEITURAS
Nós,escritores,somos
também leitores.Alguns de nós leitores compulsivos.E,crentes,porque
,acreditamos naquilo que lemos.
D. Quixote
começou a tomar moinhos de vento como gigantes, porque leu,num livro de aventuras que,um dia,nesta terra houve
gigantes.E,acreditou no livro.Comecei a sonhar com sereias depois que abri a Odisseia e li que o herói,Ulisses,foi tentado pelo seu
canto.
Percebi,participei
e odiei a guerra depois que li Erich Maria Remarke descrevê-la em “Nada de Novo
no Front”,um impacto muito forte no espírito e na mente de uma jovem de quinze
anos.
O escritor é um
crente.Apesar de já ter deixado a juventude – a idade das crenças – para trás,e
caído na dura realidade adulta,ele ainda crê e continua lutando contra moinhos
de vento.Tenta mudar o mundo em vez de associar-se a ele,quer derrubar
preconceitos,inculcar ideias novas em corações e mentes e acima de tudo ser fiel a si mesmo.Crer no seu
talento quando todos o ignoram.
Afinal,o que é
um escritor?Apenas alguém que escreve? O professor,o padre,o contador ,o
jornalista também escrevem ,mas,nem todos são escritores.
Escritor é quem
publica? Mas,existem os amadores,os que escrevem, mas, não publicam por medo ou
timidez.
Escritor é quem
tem sucesso? Falado na mídia,detentor de prêmios,convidado de festas literárias
e ou acadêmicas,citado,lido,autor de livros colocados nas principais livrarias,apontado
,respeitosamente nos aeroportos ou restaurantes;não raro ,solicitados a dar
autógrafos nos livros que escrevem ou deitar opiniões sobre tudo e todos.
E,no entanto,o
verdadeiro escritor não é midiático;escrever é um ato solitário e,na
verdade,ele detesta ser “arroz de festa”.Se pudesse,estaria calmo,no seu
canto,assuntando o mundo,para só então,descrevê-lo.
“Nós,escritores,jamais
mudaremos o mundo” afirma Saramago,o festejado escritor luso,que complementa:”A
Arte e a Literatura não tem poder diante dos exércitos”,mas,o escritor
tem,sim,a responsabilidade da ética e da palavra e não pode ser venal.
Como cidadãos
temos o dever de protestar,de expor nossas ideias,temos que uivar,como diz o
nobre escritor supra – citado.
A literatura
revela segredos nossos, pensamentos escondidos,verdades reveladas não por
Deus,como dogma,nem pela mão de chumbo do poder,mas,apenas,pela nossa
imaginação,pela faculdade humana de meditar e tentar mudar conceitos pré –estabelecidos.Não
mudamos o mundo,mas,se mudarmos uma pessoa,podemos nos dar por
satisfeitos,pois,não escrevemos em vão.
Será que esta
forma de fazer literatura,essa sintonia entre o livro e o leitor está morrendo
nos tempos de agora?Cervantes e Nietzsche estarão sendo derrotados pela TV de
Ted Turner ou pelo PC de Bill Gates?O Google é meu pastor, nada me faltará,esta
é a nova crença?
Cresci na Era do
Rádio e do jornal,no interior da Bahia,onde meu pai,todas as manhãs,sentava-se
na espreguiçadeira para ler “A Tarde”; “saiu na Tarde é verdade”,rezava o
slogan.
Hoje,pela TV,assistimos
ao vivo e a cores em alta definição no HD ,a genocídios cometidos mundo a fora,golpes de estado,morticínio e
injustiças diversas.Não precisamos ouvir ou ler sobre isso para acreditar;basta
olhar.
Os jornais e
revistas que ás vezes trazem o artigo de
um escritor nos chegam com gosto de café requentado.
Muitos já o
postaram no Facebook,nos seus sites e blogs e nos jornais virtuais ,como eu
faço.
São lidos muito
mais rápidos através do mundo.O Feed jit se encarrega de me mostrar quem são,de
onde veem,através de que canais e o que leem.Um círculo precioso que Dante
jamais poderia ter colocado no paraíso,porque,hoje não se publica,se posta.
O certo é que
,nós,que escrevemos,resistimos,insistimos e escrevendo ou postando, não devemos
deixar de transmitir ideias ou experiências.A palavra é nossa ponte para o
sempre.Esforcemos para criar leitores desde a infância ;que leiam ,não importa
se no livro impresso,tão caro á nossa geração ou o e-book ou e-pub,lidos nos
tablets e celulares.Pois o livro é a educação dos sentidos através da
linguagem;é a intimidade do nosso país,o conceito que fazemos de nós mesmos e
do nosso povo,o repositório da nossa cultura e tradição.
Assim, festejemos
o Dia do Escritor,o 25 de Julho.
Hoje,mais do que
nunca,impresso ou virtual o livro dá voz ao ser humano e diz que se não
falarmos,quem mais falará?Seremos uma sociedade refém do silêncio.
Miriam de Sales
Escritora,editora
e blogueira
Jul/13
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