O BLOG DE MARÇO/13
MIRIAM SALES ENTREVISTA
CASTRO ALVES
Eu- Bom dia,poeta.Hoje
você completa 166 anos,mas,sua beleza,seu carisma ,sua juventude permanecem a
mesma.A que se deve isto?
C.A. Não vê? morrer
jovem tem dessas vantagens;mas,afinal,o que é o tempo?vive-se ,morre-se mas,a dança
dos séculos permanece.
Eu- Mas,você é imortal.Seus
poemas atravessaram o tempo e a beleza dos seus versos ainda encantam
diferentes gerações.
C.A.Verdade? Quando
nasci a 14 de março de 1847,naquela
fazenda Cabaceiras,num município chamada Curralinho...
Eu-...que hoje leva seu
nome Castro Alves.
C.A. Sei e encho-me de
orgulho.Naquela época jamais pensaria em ter toda essa fama.E,nem a procurava.Só queria
viver,amar e louvar a beleza.
Eu- Seus pais,o Dr. Antonio
José Alves e sua mãe,D. Clélia,filha do Periquitão,um dos grandes heróis da
Independência que ajudou a derrotar Madeira de Melo,lhe deram todo o apoio nos
estudos e na vida,por se tratar de pessoas esclarecidas e de visão;isso ajudou
sua formação,não foi?
C.A. Ajudou muito.Minha
família criou e desenvolveu o poeta.E,eu adorava meu avô,José Antonio da Silva
Castro que me ensinou a preservar a liberdade e a independência das ideias.
Eu –Você teve muitos
irmãos...
C.A –Sim,José
Antonio,eu,Antonio,Guilherme,João,que morreu ao nascer e ,por fim,Elisa.
Eu-A cidade ficou muito
pequena para as ambições de seu pai.Mudaram-se para a Capital.Conta isso.
C.A- Pois é ,fomos
morar na rua do Rosário,nº 1,um antigo casarão cheio de lendas e mistérios.Lá
viveu uma bela moça,Júlia Feital ,que foi assassinada pelo noivo ciumento,com
uma bala de ouro.
Nesta casa nasceram
Adelaide e Amélia.
Eu-Em 1855 começaram
seus estudos...
C.A. –Foi.Cursei o
Colégio Sebrão,depois fui para o Ginásio Baiano do Abílio César Borges,um
grande educador.
Eu- Sei,o Barão de
Macaúbas,mestre inesquecível.
C.A –O doutor
revolucionou o estudo da época;estudávamos várias matérias ao mesmo
tempo,tínhamos liberdade e nenhum castigo físico.
Eu já gostava de falar
em público, recitar e reverenciar os vultos importantes.Seria isso um precursor
da fama?rsss
Eu- Por certo que sim.Quem
sai aos seus não degenera.Seu pai não foi um dos fundadores da Sociedade das Belas Artes da Bahia?
C.A- Ele gostava de
pintar.Mamãe morreu neste período aos 33 anos;foram dias muito cruéis.Meu irmão
tentou o suicídio;conheci a morte e a
loucura e a minha vida só voltou ao normal quando eu e José Antonio fomos para
Recife,fazer os preparatórios para a Faculdade de Direito.Lá ,terminamos
morando numa “república” e comecei a escrever meus primeiros poemas,além de
fundar um jornal “ A Primavera”.Apaixonei-me por Vítor Hugo ,pelo teatro,ah! A Dalila
de Feuillet,representada por Eugênia Câmara,grande atriz portuguesa ,que seria
meu primeiro e único amor.
Eu- Mas,esse amor
chegou muito depois,não foi?Por enquanto,você tinha 16 anos ,era
belo,jovem,inteligente,rico e muito orgulhoso,segundo seus colegas.
C.A Mas,como tudo na
vida ,alegria e decepções andam juntas;tive percalços na Faculdade e perdi meu
irmão,José.
Mas,como já sabia as
matérias do curso pude me dedicar a escrever “Os Escravos”.Os problemas sociais
já me chocavam e indignavam.
Eu –Mas,você já
começava a despontar em público;recitou “O Século” na abertura dos estudos dos
estudos jurídicos.
Naquela época os poemas
eram cívicos,estávamos em plena Guerra do Paraguai,todos queriam louvar os
voluntários,você ,também...
C.A- Sim, cheguei a me
alistar,mas,não gosto de guerras nem violência.
Eu-Em 1866 você perdeu
seu pai,mas,ganhou o amor de Eugênia Câmara.
C.A – A vida é assim ,perdas
e ganhos.E,nunca quis passar o sentimento de perda ou dor,pessoais,para minha
poesia.
Eu-Para ela você
escreveu vários poemas de amor e a peça “O Gonzaga”,que queria ver interpretada
por ela,no papel principal.
C.A- Claro.Ela era
melhor atriz que a Adelaide do Amaral,amada do Tobias Barreto,que era meu amigo
e,depois,tornou-se meu maior adversário.Tobias era feio,velho,escrevia mal e
declamava ainda pior.
Eu- Não era páreo para
você,que entrava em cena,belo,vestido de negro,com uma flor na lapela,pálido
;as mulheres ,deliravam.
C.A- rsss Mas, a vida
não era só isso.Fundei com Rui Barbosa e colegas da Faculdade uma sociedade
abolicionista e republicana.
Eu- Por essa época você
e Eugênia foram viver na Bahia...
C.A. No Solar Boa
Vista,antiga casa da minha família.Fomos felizes ali.Finalmente,estreou o
Gonzaga,com Eugênia ,no papel principal.Foi uma consagração.Fui carregado pela
multidão ,emocionada.
Eu-E,no Rio,como foi?
C.A. –Um sucesso.Fui
ver José de Alencar e conheci Machado de Assis ;ele e meu colega Lúcio de Mendonça,fundador da Academia de
Letras,deram uma força muito grande para minha carreira.Recitei “Ode ao 2 de
Julho”,o “Navio Negreiro” e comecei a escrever “Vozes D’África.”
Eu- Então,estava tudo
bem...
C.A – Quem dera.A vida
com Eugênia estava
insuportável;brigas,picuinhas,desavenças,desconfiança,falava-se em
adultério.Enfim,ela foi embora.
Eu- Você sofreu muito?
C.A-Muito.Abatido,desgostoso,sem
rumo,passei a gostar de caçadas e,naquele trágico dia de
Novembro,desastrado,dei um tiro no pé.Seis meses de cama,triste,solitário
,plantei ali a semente da minha morte.Mas,ainda escrevi “Espumas Flutuantes”
enquanto viajava de vapor para a Bahia.
Eu- Ainda houve muitos
versos e paixões,como a bela viúva Agnese.
C.A Foi.Mas,a doença
agravou-se e,no dia 6 de julho de 1871,
três e vinte da tarde ,a morte chegou.Pedi a minha irmã que me levasse até á
janela para ver o sol.Então,ela chegou...
Se fui feliz,sim.Fui
poeta,sonhei e amei na vida....Casei o pivô com a poesia.Vida breve,mas, muito
bem vivida.Estou cansado.Adeus.
Eu- Querido poeta,obrigada
por falar comigo.Adeus.
Estátua de Castro Alves,Salvador,
porque a praça é do povo,como o céu é do condor.
O século
O SÉCULO
POEMA DE CASTRO ALVES
O séc'lo é grande...No espaço
Há um drama de treva e luz.
Como o Cristo — a liberdade
Sangra no poste da Cruz.
Um corvo escuro, anegrado,
Obumbra o manto azulado,
Das asas d'águia dos céus...
Arquejam peitos e frontes...
Nos lábios dos horizontes
Há um riso de luz... É Deus.
Sangra no poste da Cruz.
Um corvo escuro, anegrado,
Obumbra o manto azulado,
Das asas d'águia dos céus...
Arquejam peitos e frontes...
Nos lábios dos horizontes
Há um riso de luz... É Deus.
Às vezes quebra o silêncio
Ronco estrídulo, feroz.
Será o rugir das matas,
Ou da plebe a imensa voz?...
Treme a terra hirta e sombria. . .
São as vascas da agonia
Da liberdade no chão?...
Ou do povo o braço ousado
Que, sob montes calcado,
Abala-os como um Titão?!...
Ronco estrídulo, feroz.
Será o rugir das matas,
Ou da plebe a imensa voz?...
Treme a terra hirta e sombria. . .
São as vascas da agonia
Da liberdade no chão?...
Ou do povo o braço ousado
Que, sob montes calcado,
Abala-os como um Titão?!...
Ante esse escuro problema
Há muito irônico rir.
Pra nós o vento da esp'rança
Traz o pólen do porvir.
E enquanto o cepticismo
Mergulha os olhos no abismo,
Que a seus pés raivando tem,
Há muito irônico rir.
Pra nós o vento da esp'rança
Traz o pólen do porvir.
E enquanto o cepticismo
Mergulha os olhos no abismo,
Que a seus pés raivando tem,
Rasga o moço os nevoeiros,
Pra dos morros altaneiros
Ver o sol que irrompe além.
Toda noite — tem auroras,
Raios — toda a escuridão.
Moços, creiamos, não tarda
A aurora da redenção.
Gemer — é esperar um canto...
Chorar - aguardar que o pranto
Faça-se estrela nos céus.
O mundo é o nauta nas vagas...
Terá do oceano as plagas
Se existem justiça e Deus.
Pra dos morros altaneiros
Ver o sol que irrompe além.
Toda noite — tem auroras,
Raios — toda a escuridão.
Moços, creiamos, não tarda
A aurora da redenção.
Gemer — é esperar um canto...
Chorar - aguardar que o pranto
Faça-se estrela nos céus.
O mundo é o nauta nas vagas...
Terá do oceano as plagas
Se existem justiça e Deus.
No entanto inda há muita noite
No mapa da criação.
Sangra o abutre — tirano
Muito cadáver — nação.
Desce a Polônia esvaída,
Cataléptica, adormida,
À tumba do Sobieski;
Inda em sonhos busca a espada ...
Os reis passam sem ver nada ...
E o Czar olha e sorri...
No mapa da criação.
Sangra o abutre — tirano
Muito cadáver — nação.
Desce a Polônia esvaída,
Cataléptica, adormida,
À tumba do Sobieski;
Inda em sonhos busca a espada ...
Os reis passam sem ver nada ...
E o Czar olha e sorri...
Roma inda tem sobre o peito
O pesadelo dos reis!
A Grécia espera chorando
Canaris... Byron talvez!
Napoleão amordaça
A boca da populaça
E olha Jersey com terror;
Como o filho de Sorrento,
Treme ao fitar um momento
O Vesúvio aterrador.
O pesadelo dos reis!
A Grécia espera chorando
Canaris... Byron talvez!
Napoleão amordaça
A boca da populaça
E olha Jersey com terror;
Como o filho de Sorrento,
Treme ao fitar um momento
O Vesúvio aterrador.
A Hungria é como um cadáver
Ao relento exposto nu;
Nem sequer a abriga a sombra
Do foragido Kossuth.
Aqui — o México ardente,
— Vasto filho independente
Da liberdade e do sol —
Jaz por terra... e lá soluça
Juarez, que se debruça
E diz-lhe: "Espera o arrebol!"
O quadro é negro. Que os fracos
Recuem cheios de horror.
A nós, herdeiros dos Gracos,
Traz a desgraça — valor!
Lutai... Há uma lei sublime
Que diz: "À sombra docrime
Há de a vingança marchar."
Não ouvis do Norte um grito,
Que bate aos pés do infinito,
Que vai Franklin despertar?
Ao relento exposto nu;
Nem sequer a abriga a sombra
Do foragido Kossuth.
Aqui — o México ardente,
— Vasto filho independente
Da liberdade e do sol —
Jaz por terra... e lá soluça
Juarez, que se debruça
E diz-lhe: "Espera o arrebol!"
O quadro é negro. Que os fracos
Recuem cheios de horror.
A nós, herdeiros dos Gracos,
Traz a desgraça — valor!
Lutai... Há uma lei sublime
Que diz: "À sombra docrime
Há de a vingança marchar."
Não ouvis do Norte um grito,
Que bate aos pés do infinito,
Que vai Franklin despertar?
É o grito dos Cruzados
Que brada aos moços — "De pé"!
É o sol das liberdades
Que espera por Josué!...
São bocas de mil escravos
Que transformaram-se em bravos
Ao cinzel da abolição.
E — à voz dos libertadores —
Reptis saltam condores,
A topetar n'amplidão!...
Que brada aos moços — "De pé"!
É o sol das liberdades
Que espera por Josué!...
São bocas de mil escravos
Que transformaram-se em bravos
Ao cinzel da abolição.
E — à voz dos libertadores —
Reptis saltam condores,
A topetar n'amplidão!...
E vós, arcas do futuro,
Crisálidas do porvir,
Quando vosso braço ousado
Legislações construir,
Levantai um templo novo,
Porém não que esmague o povo,
Mas lhe seja o pedestal.
Que ao menino dê-se a escola,
Ao veterano — uma esmola...
A todos — luz e fanal!
Crisálidas do porvir,
Quando vosso braço ousado
Legislações construir,
Levantai um templo novo,
Porém não que esmague o povo,
Mas lhe seja o pedestal.
Que ao menino dê-se a escola,
Ao veterano — uma esmola...
A todos — luz e fanal!
Luz!... sim; que a criança é
uma ave,
Cujo porvir tendes vós;
No sol — é uma águia arrojada,
Na sombra — um mocho feroz.
Libertai tribunas, prelos ...
São fracos, mesquinhos elos...
Não calqueis o povo-rei!
Que este mar d'almas e peitos,
Com as vagas de seus direitos,
Virá partir-vos a lei.
Cujo porvir tendes vós;
No sol — é uma águia arrojada,
Na sombra — um mocho feroz.
Libertai tribunas, prelos ...
São fracos, mesquinhos elos...
Não calqueis o povo-rei!
Que este mar d'almas e peitos,
Com as vagas de seus direitos,
Virá partir-vos a lei.
Quebre-se o cetro do Papa,
Faça-se dele — uma cruz!
A púrpura sirva ao povo
Pra cobrir os ombros nus,
Que aos gritos do Niagara
— Sem escravos, — Guanabara
Se eleve ao fulgor dos sóis!
Banhem-se em luz os prostíbulos,
E das lascas dos patíbulos
Erga-se a estátua aos heróis!
Faça-se dele — uma cruz!
A púrpura sirva ao povo
Pra cobrir os ombros nus,
Que aos gritos do Niagara
— Sem escravos, — Guanabara
Se eleve ao fulgor dos sóis!
Banhem-se em luz os prostíbulos,
E das lascas dos patíbulos
Erga-se a estátua aos heróis!
Basta!... Eu sei que a mocidade
É o Moisés no Sinai;
Das mãos do Eterno recebe
As tábuas da lei! — Marchai!
Quem cai na luta com glória,
Tomba nos braços da História,
No coração do Brasil!
Moços, do topo dos Andes,
Pirâmides vastas, grandes,
Vos contemplam séc'los mil!
É o Moisés no Sinai;
Das mãos do Eterno recebe
As tábuas da lei! — Marchai!
Quem cai na luta com glória,
Tomba nos braços da História,
No coração do Brasil!
Moços, do topo dos Andes,
Pirâmides vastas, grandes,
Vos contemplam séc'los mil!
NOSSA HOMENAGEM AO MAIOR POETA BAIANO DE TODOS OS TEMPOS
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