FLIPORTO:AS MESAS,OS AUTORES E O PÚBLICO
Levando-se em conta a quantidade das atrações seria
humanamente impossível assistir a tudo que a Fliporto ofereceu a seus
visitantes.
Assim, selecionei as mesas que queria assistir,uma
escolha difícil,mas,necessária.Estamos falando do “Congresso Literário”,onde
uma plêiade de nomes importantes desfilariam idéias e conhecimentos sobre nós,pobres mortais.
Dia 12
Não pude assistir á abertura, pois, cheguei dia
12,correndo para assistir Frei
Betto,imperdível.
Cheguei a tempo de participar , mente e coração abertos,á
fantástica exposição deste autor, que
falou de religião,ditadura,espiritualidade e ,”last but not least”,suas
relações com Fidel Castro,o líder mais odiado/ amado da América Latina.
Acostumado a empolgar multidões , desta vez não foi
diferente.
“Nasci escritor e com fome de justiça” ,disse o autor.
Uma coisa que
sempre me chama atenção nas mesas e palestras que assisto é a diferença entre
erudição e comunicação. Muitas vezes o autor é um sábio,mas,não tem o poder de se comunicar com a platéia,lhe
falta carisma e,isso,verdadeiramente é
terrível,pois, não tendo a capacidade de interagir com o público,este acaba
desinteressado,se coça,cochila ,sai e a palestra perde a energia,o fio condutor
entre público e autor.
Frei Betto e
Fernando Morais são imbatíveis no carisma e na empatia entre eles e seu
público.
Conversando com
Frei Betto descobri que tenho uma raridade na minha biblioteca,sua obra “Fidel e a Religião” ,ora
esgotada,que comprei ainda muito jovem e conservo até hoje.
Neste mesmo dia assisti a mesa ”Olhares Cruzados e
Compartilhados:do tradutor e do viajante.”
Interessante perceber a visão de um indiano,Dilip Loundo
e de um japonês,Shigeru Suzuki sobre a obra de Gilberto Freyre.O Mestre de
Apicucos fez parte da minha formação intelectual,bem como Monteiro
Lobato,Nietzsche ,Thomas Mann entre outros.
A mesa foi mediada com a competência de sempre por meu
caro Mauricio Melo Filho,um refinado intelectual e uma pessoa antenada com
a Literatura neste país.Foi bom revê-lo
novamente e poder ouvi-lo e aprender com ele.
Por fim, para aproveitar bem o dia (carpe diem)
,terminei com a mesa “O Viajante Afortunado”-uma noite de poesia com Derek Walcott, prêmio Nobel,autor de “Omeros”,um
livro fantástico,onde pontificava também Marcos Accioly,um gigante da
literatura nordestina,ele mesmo um viajante afortunado das letras.
“Não a escrevi pensando num épico, mas,saiu com esse
fôlego e força,”disse o famoso poeta das
metáforas maravilhosas,fazendo de” Omeros “uma leitura indispensável para os
amantes da poesia.
Ambos poetas épicos
e ambos inspirados na Ilíada pois, Accioly
escreveu “Latinoamérica”,decidiram criar uma parceria inteligente,quebrando
protocolos e fazendo e respondendo perguntas para gáudio do público atento e ligado em cada palavra.
Este dia começou e terminou muito bem, vamos ao próximo.
DIA 13
Ser escritor é vocação ou fatalidade? Alguém nasce
escritor?
Pois esse foi o tema da mesa “Como e porque sou escritor”
com o português Gonçalo Tavares e o
venezuelano Fernando Báez.
O Gonçalo, autor de “Jerusalém” com quem tive o prazer de
conversar nos caminhos do parque, é uma
pessoa afável,sempre pronta para seu público
e disposto a um bom bate- papo.
O Báez é autor de um livro incrível “ História Universal
da Destruição de Livros”,que aborda esse tema desde a queima da Biblioteca de
Alexandria.Seu livro “A destruição Cultural do Iraque”,onde denuncia pilhagens
e destruição da rica cultura babilônica o
tornou “persona non grata” nos Estados Unidos,um galardão para qualquer
escritor.
Aplaudidos por um público atento e receptivo, essa mesa
foi um sucesso.
A próxima, para mim, embora houvesse outras,foi a mesa
com o escritor Tariq Ali,conversando com o global Silio Boccanera,aliás,um tipo
inexpressivo que não emplacou e nem fez jus ao tamanho do autor á sua frente.
E a mesa era muito atual e interessante, o autor ,combativo e o tema
recorrente.”Paquistão – Afeganistão- equívocos na guerra ao terror- Obama imita
Bush”.
Tariq aborda a situação de Obama rendido em sua própria casa,mas,que insiste em manter
as guerras no Exterior,cavando cada dia mais um buraco onde,certamente,cairá.
“Não me decepcionou porque não esperava nada dele”,disse
o escritor paquistanês.
Eu também, caro
Tariq,sempre falei sobre o “branqueamento” de Obama nos meus artigos.
Sendo a primeira festa literária a tratar de política, a
Fliporto,só por isso ganharia destaque e aplausos no mundo todo pela coragem e ausência
total de censura.Todos puderam dizer o que pensavam.
Tariq, sempre com um semblante mau humorado,falou da
ocupação de Wall Street,dos países corporativos,do novo deus Mercado,das
guerras e da violência.
Como um intelectual verdadeiro e que não silencia sobre seu tempo o autor obteve muito sucesso nesta palestra.
DIA 14
Êta que essa mesa foi porreta. Um verdadeiro massacre!
Refiro-me á mesa do quixotesco
Fernando Morais, com Samarone
Lima e o nanico Leandro Narloch.
O mercenário trasvestido de escritor que confessou “escrever
para ganhar uma graninha” foi literalmente destruído pela inteligência e
competência do Fernando,cinqüenta anos de jornalismo e militância,autor de
Olga, Chatô,o rei do Brasil e do lendário “A Ilha”.
O incorreto Narloch,autor de estórias incorretas do
Brasil e da America Latina,cheias de fatos históricos deturpados e acusações totalmente desprovidas de prova e
sentido,foi naturalmente vaiado, como na FLICA ,mas,não precisou sair escoltado
para não apanhar, como aconteceu em Cachoeira. Leia uma das suas ”pérolas” ditas durante a mesa:
“-Perón, apesar de gostar de menininhas não pode ser
considerado pedófilo, se a garota
de - digamos – treze anos já tiver um
corpo de mulher...”
Samarone Lima também se referiu á inconsistência das fontes do Narloch,principalmente sobre a
era Pinochet,onde ele foi buscar informações com a direita cubana.
Deveria ter saído preso, mas, ao menos , saiu vaiado e ,ao que me parece nem
apareceu para os autógrafos,pelo menos,não vi.Estive um tempão na fila de
autógrafos do Fernando,demorei-me um pouco conversando e tirando
fotografias e ,graças aos deuses,não
cruzei com esse cidadão.
Só a Veja o coloca entre os mais vendidos, já que ele é, sobretudo,o
garoto propaganda da referida revista.Se for verdade ,ou ele tem uma família
muito grande,ou os Civita compraram toda a edição ou aqui no Brasil temos mais
ignorantes do que eu imaginava.
Bom, para acalmar minha indignação, veio a outra mesa “Como
o cinema e a TV reescrevem a Literatura”,com Nelson Pereira dos Santos,Guel
Arraes e Tizuka Yamaski.
Três monstros sagrados do cinema nacional debatendo sobre
ambas as artes –a literária e a cinematográfica - foi um presentaço para a platéia,cheia de
gente famosa.
Abdel Bari Atwa,escritor e jornalista palestino,
conversando com Geneton Morais Neto sobre a “Primavera Árabe” foi o ponto alto
desta mesa onde o jornalista que entrevistou Bin Laden ao vivo e a cores,contou
histórias fantásticas a uma atenta platéia presa nas suas palavras..
Mr.Atwan, um papo sobre a Palestina
“Fui o único imbecil
disposto a sacrificar a vida ao embarcar nessa”,disse o escritor.
Bari Atwan passeou
na praia e diz ter adorado o povo brasileiro pela sua capacidade de interação e
compartilhamento.
E, deu um conselho aos israelenses:
-“Parem de nos odiar. Tomem o Brasil como exemplo de
sociedade multirracial”,falou.
No dia 15 não pude
assistir nenhuma mesa,devido a outros compromissos.
Lamentei muito, mas, a próxima Fliporto virá
e,certamente,estarei lá.
10:16 (1 hora atrás)
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Li a entrevista e tentei postar o seguinte comentário, mas o sistema não está colaborando.
Constitui-se numa verdadeira viagem de muito encanto o acesso ao blog da escritora
Miriam Sales. Dinamismo, o fluir do seu magnífico discurso, uma explanação que muito
honra a Língua Portuguesa. Acompanhar cada palavra dos textos dessa carismática
escritora é como abrir uma concha e tocar na pérola que ali se aloja. Que discorrer de
apuradas palavras. Que belo discurso! Parábéns, sempre parabéns, Miriam!
Everaldo Oliveira Santos